Sempre gostei de um campo. Como Regional, jamais gastei meu tempo fazendo eu mesmo o trabalho do Gerente Distrital. Respeitava o escopo dos GDs e, apesar de uma ou outra pressão eventual para atuar na operação, não abria mão disso – GDs empoderados e performando, merecem respeito. Ia pro campo para ajudar o Representante. Sempre disse: “me use à vontade, tô aqui para a gente atender seus clientes, juntos.” E sempre dava certo, simplesmente porque eu era eu mesmo, não fazia tipo. Claro que, em algumas situações específicas, o próprio GD pedia para que eu fosse ao campo e checasse se a visão dele sobre a forma de um Representante atuar estava correta. Mas aí era outra coisa. Às vezes, uma visão de fora, ajuda.

Pois essa história não é uma fábula, é fato real. Uma das situações inesquecíveis vividas em saídas a campo a qual só o prazer de dar suporte ao Representante é capaz de proporcionar.

Estávamos lá, bem no Centro de uma Porto Alegre chuvosa e fria, eu o Vice-Presidente da empresa e o Radinho (apelido: Eduardo, porque muita gente nem conhece ele por esse nome), visitando clientes. O Big Boss, um britânico de pouco mais de 30 anos, estava chegando ao país e queria conhecer alguns clientes. Eu, com meu inglês esmerado, tirava onda de tradutor e interprete. Radinho sempre foi um puro sangue para o trabalho. Valente, bem humorado e contagiante, ainda mais na chuva cinza do Centro daquela cidade que tanto conhecia.

Elevador descendo, os três olhando pro teto, de repente…, o Radinho filosofa no meu ombro: “Daniel,  Much em inglês é mais? – Não, Radinho, Much é muito. Mais é more. Satisfeito com a resposta, ergue o queixo e declara: “- Tudo bem, então tá certo. Então, Daniel, pode dizer pra ele que eu quero muito mais desafio!”

E naquele dia ele queria mesmo. Ele queria dizer tudo para o Big Boss, mostrar tudo ao mesmo tempo. Porque pro Radinho, menos era sempre mais – ele não economizava, maximizava. E, mesmo que eu pedisse a ele mais umas 10 vezes que me ajudasse, que fosse objetivo, (meu inglês permitia defender a honra da família, tradução simultânea já era uma super ousadia) mais ele se entusiasmava na fala, mais ele contava. Nada passou despercebido, a expressão mais usada da tarde foi “Daniel, diz pra ele…” e eu dizia, porque cada vez que eu dizia, os olhos do Radinho (e, vez por outra, os do Big Boss) brilhavam.

Contava pro Presidente como matava o concorrente, como fazia seus negócios, com riqueza de detalhes. As palavras vertiam e eu ali pegando as que caíam da mão, tentando traduzir tudo pra que o nosso convidado pudesse minimamente compreender toda a energia, o carisma daquele guerreiro. Com os clientes, o Radinho era o anfitrião perfeito, instigando as conversas, com aqueles que se sentiam à vontade em conversar com o Boss no idioma da Rainha.

The Boss agora entendia o sentido do que eu tinha tentado explicar mais cedo, no café da manhã: “- After a few minutes of conversation, you will understand why his nickname is Radio”.

E o Radinho conseguiu. No final do dia, o grande chefe se vira pra mim entusiasmado e diz: “eu não entendo nada do que ele diz, mas eu sei exatamente o que ele quer dizer, ele é muito bom com os clientes!” Trabalhamos juntos até o dia em que decidi seguir outro caminho. Eduardo, que muito seja sempre mais e que much seja sempre pouco pra ti. Essa foi uma das melhores idas à campo que fiz, grandes aprendizados.

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